Porque teus olhos ainda muitas vezes correrão por outros olhos

Que não são meus. E durante tantas madrugadas sentirá ainda

Tantos cheiros em tantas peles e pelos que não são meus.

Perderá a noção das horas novamente em lençóis

De camas que nunca dormimos.

E chorará e enxugará tuas lagrimas salgadas misturadas de saliva

E beijos de despedida em aeroportos e rodoviárias sujas pelas

quais nunca passei.

Dormirá algumas tristes noites com as mãos pregadas ao telefone

que não tocará naquela noite, nem talvez, no mês.

Mas ah! Ainda há de sorrir por outras vezes quando se deparar com

tantos outros olhos doces que não são meus.

E seus dedos se entrelaçarão e perder-se-ão por tantos outros

infinitos fios de cabelo.

Sim, teus olhos de lua cheia ainda brilharão esperançosos de amor,

como faz de vez em quando, como ao repousar a tua cabeça

sobre as próprias mãos à contemplar as luzes trêmulas da cidade,

relembrando em cada tragada, uma saudade de alguém que

nunca chegamos a ser.